quarta-feira, 24 de março de 2010

Serralves




História
A história da Casa de Serralves iniciou-se no início dos anos 20 do século XX depois de Carlos Alberto Cabral (1895-1968), 2º Conde de Vizela, ter herdado a quinta de veraneio da sua família. Homem culto e viajado, tinha uma atracção pela modernidade e pela vivência cosmopolita, aspectos que não se conciliavam com o clima cultural e social da cidade do Porto e aos quais não terá sido alheia a educação francesa e inglesa de que havia beneficiado durante a infância.,
Em 1923, no mesmo ano em que recebeu a herança, comprou em Biarritz, França, na zona do Plateau do Phare, uma moradia chamada Villa Velleda. Nesta estância balnear terá apreciado de perto a arquitectura moderna e a moda art déco, tendências que acabariam por influenciar a construção do novo edifício na antiga casa de férias.
Dois anos depois, com o objectivo de mobilar o novo espaço, visitou na companhia do arquitecto José Marques da Silva a Exposition Internationale de Arts Décoratifs et Industriels Modernes em Paris, certame cuja modernidade o deixa fascinado e no qual estabelece contactos com o famoso decorador Jacques-Émile Ruhlmann e seus colaboradores. O projecto e a construção da nova casa iniciaram-se nesse mesmo ano e foram objecto de várias alterações e intervenções. Numa primeira fase o desenho previa uma adaptação prudente da casa existente na propriedade, mas com excepção da capela de finais do século XIX, cuja estrutura se manteve tendo sido envolvida pela ‘pele’ que à volta dela se construiu, o projecto resultou numa residência construída de raiz.
Participaram na edificação da Casa vários intervenientes mas a sua autoria poderá ser atribuída, com algum cuidado, a Charles Siclis, cuja participação se revelou decisiva na concepção global do projecto, e a José Marques da Silva que o desenvolveu, alterou e executou. Algumas modificações importantes terão partido do próprio Carlos Alberto Cabral e a intervenção de Jacques-Émile Ruhlmann, e mais tarde de Alfred Porteneuve, seu sobrinho e arquitecto de formação, também obrigou a alterações de modo a harmonizar as relações entre o interior e exterior do edifício. O edifício, entendido enquanto obra colectiva, só seria concluído em 1944, com um atraso considerável devido às dificuldades provocadas pela Guerra Civil Espanhola e pela 2ª Guerra Mundial. Considerada a obra arte déco mais notável de Portugal, ainda que terminada muito depois de o estilo ter tido o seu período áureo, este edifício ultrapassa largamente o edificado no contexto da arquitectura portuguesa da época, ainda dominada pelo gosto oitocentista e pelas orientações beaux-arts e pontuada, raramente, por incursões pela arte nova.
Ao lado de Blanche Daubin, com quem se viria a casar no início dos anos 50, o Conde ocuparia definitivamente a casa em 1944. Habitá-la-ia contudo por pouco tempo. Devido a dificuldades financeiras vendeu-a e ao resto da propriedade, a Delfim Ferreira, conde de Riba d´Ave antes de se estabelecer nos dois últimos andares de um prédio no Porto. O negócio previa contudo uma restrição: a propriedade não podia ser objecto de qualquer transformação. Até aos anos 80 o espaço permaneceria inacessível ao público até que, em 1986, o Estado representado por Teresa Patrício Gouveia, então Secretária de Estado da Cultura, adquire a quinta aos herdeiros de Delfim Ferreira permitindo a sua abertura à cidade.
Em 1957, a propriedade foi adquirida pelo industrial Delfim Ferreira que a manteve praticamente na sua forma original até que, em 1986, a sua família a alienou.

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